quinta-feira, 8 de maio de 2008

Que reste t'il de nos amours

Eu quero acreditar que minha vontade tem poder.

Amanhã eu vou estar no mesmo lugar onde estivemos juntos há alguns dias. No mesmo lugar, ouvindo as mesmas músicas e provavelmente vendo as mesmas pessoas, minha bebida preferida, no balcão do bar. E lá eu vou ficar até que algum sinal de vida (da sua vida) dê as caras e resolva colocar um fim em uma série de coisas. E ao mesmo tempo, traga mais uma série de outras coisas boas consigo.

E sei que você vai chegar, e isso vai mexer comigo. E não vou saber onde colocar as mãos, ou mesmo onde apoiar o copo (mesmo estando ao lado do balcão), mas vou fazer um esforço sobre-humano para não demonstrar nada disso e deixar escapar uma pequena dose de indiferença. Merecida.

Na sequência, você vai fazer cara de quem não sabe como dizer as coisas, mas está louco para explicar tudo e colocar um fim em alguns mal entendidos. E você vai sorrir pra mim, e me pedir desculpas por toda a palhaçada que se seguiu nos últimos dias. E eu vou querer saber o que aconteceu, e teremos uma longa conversa. E daí então tudo pode ser diferente do que é, ou do que tem sido.

Mas a probabilidade vai contra meu desejo. E ambos teremos que conviver com essa realidade.

E nessa realidade paralela, você nunca vai me ver acordando de manhã, com a juba de um leão das montanhas e meu mau humor habitual. Mas também não vai ver como meus olhos ficam expressivos quando quase não se vê minhas pupilas. Vai perder todo meu ritual matinal, minha saída do banho, enrolado na toalha, descalço.

Vai perder de me ver pronto para o trabalho, perfumado, e o beijo de "até mais tarde".

E também não terá a companhia para os filmes em casa jogados no sofá, nem para dividir e brigar pela última pipoca. E não vai poder se irritar com minhas manias. Mas também não terá meus carinhos secretos, ou o beijo de boa noite, ou a despedida na porta até o próximo encontro. Nem o reencontro.

Por muito tempo eu mantive essa porta fechada. Para mim e para o mundo. Eu achei que não podia mais. E de repente, em um momento sem perceber, eu esqueci de passar a chave na porta e você apareceu. Você poderia ter tido a casa inteira, mas preferiu ficar só no hall de entrada.

Você poderia ter meu coração-casa grande, mas se contentou em ficar na senzala.

Também vou perder uma série de coisas, eu sei. Mas pelo pouco que recebi, tenho muito mais a oferecer.

Eu quero muito acreditar que nada que aconteceu há uma semana foi em vão. Quero acreditar que boa parte (senão tudo) que ouvi é verdade. Quero acreditar também que não me enganei redondamente a respeito de uma possibilidade. Justamente por isso, estarei naquele mesmo lugar, no mesmo balcão, com a mesma bebida. E pode ser que dessa vez, seja tudo diferente. Ou não.

Armand

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